
SÃO FRANCISCO DE ASSIS
26 de setembro de 1182
3 de outubro de 1226


Capítulo 13
Desde então, o bem-aventurado Francisco, percorrendo cidades e aldeias, começou a pregar por toda parte com mais amplitude a perfeição, não com palavras persuasivas de sabedoria humana, mas na doutrina e poder do Espírito Santo, anunciando com confiança o reino de Deus. Francisco era pregador autêntico, confirmado pela autoridade apostólica, sem usar nenhuma adulação, rejeitando as palavras lisonjeiras porque o que ensinava aos outros em palavras já tinha primeiro ensinado a si mesmo por obra. Até muitas pessoas letradas e cultas admiravam em seus sermões o poder e a verdade que nenhum homem lhe havia ensinado e corriam para vê-lo e ouvi-lo como um homem de outro mundo. Por isso, nobres e plebeus, clérigos e leigos, por divina inspiração, começaram a aderir aos exemplos do bem-aventurado Francisco e, desprezando preocupações e pompas mundanas, foram viver sob sua disciplina.
Mas o feliz pai Francisco ainda vivia com seus filhos num lugar perto de Assis chamado Rivotorto, onde havia uma cabana por todos abandonada. O lugar era tão apertado que ali mal podiam sentar e repousar. E, muitas vezes, não tendo pão, só comiam nabos que mendigavam aqui e acolá naquela penúria. O homem de Deus escrevia os nomes dos frades nos caibros daquela cabana para que quem quisesse descansar ou orar soubesse o seu lugar, e para que algum barulho insolente não perturbasse o silêncio da mente por causa do aperto do lugar. Mas, certo dia, estando os irmãos nesse lugar, um vilão ali apareceu com seu asno querendo abrigar-se no tugúrio. O santo pai, ouvindo isso e conhecendo a intenção do vilão, sentiu muito pesar, especialmente porque havia feito barulho com o jumento, perturbando todos os irmãos entregues então ao silêncio e à oração. Disse, pois, o homem de Deus aos irmãos: “Sei que Deus não nos chamou para preparar hospedagem ao burro e para sermos importunados pelos homens mas para que, pregando o caminho da salvação às pessoas e dando-lhes conselhos salutares, tenhamos que insistir principalmente em orações e ações de graças”. Por isso, deixaram o referido tugúrio para o uso dos pobres leprosos, transferindo-se para Santa Maria da Porciúncula, junto à qual já tinham morado uma vez numa casinha, antes de obterem a igreja.
Mais tarde, o bem-aventurado Francisco, por prévia vontade e inspiração de Deus, obteve-a humildemente do abade de São Bento do monte Subásio, perto de Assis. O próprio santo recomendou-a de forma notável e afetuosa ao ministro geral e a todos os frades, como um lugar pelo qual a Virgem gloriosa tinha predileção entre todos os lugares e igrejas deste século.
Ele, desejando servir a Deus, como mais tarde na Ordem fielmente o fez, viu, em visão, que todos os homens deste mundo estavam cegos e ajoelhados em torno de Santa Maria da Porciúncula e, com as mãos juntas, o rosto voltado para o céu, em voz alta e lacrimosa, pediam ao Senhor que se dignasse, por sua misericórdia, iluminar a todos. Estando assim todos em oração, parecia vir do céu um grande esplendor que descia sobre eles e a todos iluminava com uma luz salutar. Quando acordou, ele se propôs servir mais firmemente a Deus e, pouco depois, tendo abandonado de uma vez este século perverso com suas pompas, entrou na Ordem onde permaneceu no serviço de Deus, humilde e devotamente.