
SÃO FRANCISCO DE ASSIS
26 de setembro de 1182
3 de outubro de 1226


Capítulo 7
Assim, o servo de Deus, Francisco, despojado de todas as coisas do mundo, dedicou-se à justiça divina e, desprezando a própria vida, entregou-se ao serviço divino por todos os modos possíveis. Voltando à igreja de São Damião, alegre e fervoroso, fez para si um hábito como de eremita. Voltou a entrar na cidade de Assis tanto a louvar o Senhor pelas praças e becos como a adquirir pedras para a reparação da referida igreja dizendo: “quem me der uma pedra terá uma recompensa, quem me der duas, terá duas recompensas, mas quem me der três, terá outras tantas recompensas”.
Muitos zombavam dele, julgando-o louco. Seria longo e difícil contar quanto trabalhou nessa obra. Ele mesmo, que fora tão delicado na casa paterna, carregava pedras nos próprios ombros, afligindo-se de muitas maneiras no serviço de Deus. Quase que diariamente pegava um prato e, entrando na cidade, ia pedindo esmola de porta em porta. Como pusesse diversas comidas na escudela, muitos que sabiam com quanta regalia ele vivera, admiravam-se, vendo-o incrivelmente transformado, com tanto desprezo de si mesmo. Mas quando quis comer aquelas comidas misturadas ficou, no início, horrorizado, pois não estava acostumado nem a comer nem mesmo a querer ver essas coisas. No fim, vencendo a si mesmo, começou a comer, e pareceu-lhe que nenhum outro manjar mais delicado lhe causasse tanto prazer. Daí em diante, Francisco dava graças a Deus que, para ele, o que antes era amargo passou a ser doce, e o confortava de muitas maneiras.