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Capítulo 8


O bem-aventurado Francisco, tendo concluído a obra da igreja de São Damião ouviu, durante a celebração de uma missa, que Cristo recomendava aos discípulos enviados a pregar que não levassem no caminho nem ouro nem prata, nem sacola nem alforje, nem pão nem cajado, e não usassem nem calçados nem duas túnicas. Entendendo isso melhor depois da explicação do sacerdote disse, repleto de contentamento: “É isto que eu quero cumprir com todas as minhas forças”.Retendo, pois, em sua memória tudo o que ouvira, Francisco tratou de cumprir alegremente aquelas palavras. Despojou-se logo do que tinha em dobro e, desde aquele momento, já não usava nem bordão, nem calçados, nem sacola ou alforje. Fez para si uma túnica bem desprezível e rústica, abandonou a correia e cingiu-se com uma corda. Colocando também toda solicitude do coração nas palavras da nova graça começou, por instinto divino, a ser um anunciador da perfeição evangélica e a pregar a penitência em público, com simplicidade. Suas palavras não eram vazias nem ridículas. Cheias da força do Espírito Santo, penetravam tão profundamente a medula dos corações que deixavam muito admirados os ouvintes.Como ele mesmo mais tarde atestou, por revelação divina, havia aprendido esta saudação: “O Senhor te dê a paz”. Por isso, no início de qualquer pregação sua, saudava o povo anunciando a paz. E é certamente admirável, para admitir como milagroso, que antes de sua conversão tinha tido um precursor no anúncio dessa saudação, que andara frequentemente por Assis saudando deste modo: “Paz e Bem! Paz e Bem!” Anunciava a paz, pregava a salvação e, com as suas salutares admoestações, muitos daqueles que tinham discordado de Cristo e estavam longe da salvação uniam-se na verdadeira paz.Quando muita gente começou a conhecer a verdade da doutrina e da vida tão simples de Francisco, alguns homens começaram, dois anos depois de sua conversão, a animar-se para a penitência pelo seu exemplo e, deixando tudo, a unir-se a ele pelo hábito e pela vida. O primeiro deles foi Frei Bernardo, de santa memória, o qual, considerando a constância e o fervor do bem-aventurado Francisco no serviço divino, propôs em seu coração dar aos pobres tudo que tinha e juntar-se firmemente a ele, pela vida e pelo hábito. Assim, certo dia, aproximou-se do homem de Deus e revelou-lhe seu propósito. O bem-aventurado Francisco, dando graças a Deus, muito se alegrou, especialmente porque Bernardo era homem de vida bem edificante. E disse a Bernardo: “amanhã, bem cedinho, iremos à igreja e pelas páginas dos Evangelhos saberemos como o Senhor ensinou a seus discípulos”.Levantando-se cedo, Francisco e Bernardo foram à Igreja de São Nicolau, perto da praça da cidade de Assis. Entrando nela para orar, como eram simples e não sabiam achar a passagem do Evangelho a respeito da renúncia do século, devotamente rogavam ao Senhor que se dignasse mostrar-lhes a sua vontade na primeira vez que abrissem o livro. Terminada a oração, o bem-aventurado Francisco, tomando o livro fechado, de joelhos diante do altar, abriu-o. Ao abrir a primeira vez, encontrou este conselho do Senhor: “Se queres ser perfeito vai e vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu”.Descobrindo isso, o bem-aventurado Francisco ficou muito contente e deu graças a Deus. Mas como era um verdadeiro adorador da Santíssima Trindade, quis que isto fosse confirmado com um tríplice testemunho. E abriu o livro pela segunda e pela terceira vez. Na segunda abertura apareceu isto: “Não leveis nada no caminho… etc.”. E na terceira, isto: “Quem quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, etc.”.O bem-aventurado Francisco, tendo dado graças a Deus em cada uma das aberturas do livro pela confirmação de seu propósito e de seu desejo então concebido, que lhe foi exibida e demonstrada três vezes divinamente, disse a Bernardo: “Irmão, esta é tanto a nossa vida e regra como a de todos que quiserem unir-se à nossa fraternidade. Ide, pois, e fazei como ouviste”.Então Bernardo, que era muito rico, foi e, tendo vendido tudo que possuía, distribuiu tudo aos pobres da cidade. Desde então, vivia juntamente com Francisco, segundo a inspiração do santo Evangelho, que o Senhor lhes havia manifestado.

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